Veloso is the fifth of the seven children born to José Telles Veloso ("Seu Zezinho") and Claudionor Vianna Telles Veloso ("Dona Canô"). His younger sister Maria Bethânia, another popular and renowned artist in Brazil, preceded him to fame as a singer in the mid-1960s. He began his career around 1965 singing bossa nova and he has cited his greatest musical influences from his early period as João Gilberto and Dorival Caymmi. (João Gilberto would say later about Caetano's contribution that it added an intellectual dimension to brazilian popular music.) But with such musical collaborators Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé, Chico Buarque, and Os Mutantes, and greatly influenced by the later work of The Beatles, developed tropicalismo, which fused Brazilian pop with rock and roll and avant garde art music resulting in a more international, psychedelic, and socially aware sound. Veloso's politically active stance, unapologetically leftist, earned him the enmity of Brazil's military dictatorship which ruled until 1985; his songs were frequently censored, and some were banned. Veloso was also alienated from the socialist left in Brazil becasue of his acceptance and integration of non-nationalist influences (like rock and roll) in his music. Veloso and Gilberto Gil spent several months in jail for "anti-government activity" in 1968 and eventually exiled themselves to London. Caetano Veloso's work upon his return in 1972 was often characterized by frequent appropriations not only of international styles, but of half-forgotten Brazilian folkloric styles and rhythms as well. In particular, his celebration of the Afro-Brazilian culture of Bahia can be seen as the precursor of such Afro-centric groups as Timbalada.
In the 1980s, Veloso's popularity outside Brazil grew, especially in Israel, Portugal, France and Africa. By 2004, he was one of the most respected and prolific international pop stars, with more than fifty recordings available, including songs in soundtracks of movies such as Pedro Almodovar's Hable con Ella (Talk to Her), and Frida. In 2002 Veloso published an account of his early years and the Tropicalia movement, Tropical Truth: A Story of Music and Revolution in Brazil.
His first all-English CD was A Foreign Sound (2004), which covers Nirvana's "Come as You Are" and compositions from the Great American Songbook. Five of the six songs on his third eponymous album, released in 1971, were also in English.
O Navio Negreiro
Caetano Veloso Lyrics
Jump to: Overall Meaning ↴ Line by Line Meaning ↴
Era um sonho dantesco o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho
Em sangue a se banhar
Tinir de ferros estalar do açoite
Legiões de homens negros como a noite
Horrendos a dançar
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães
Outras, moças mas nuas, espantadas
No turbilhão de espectros arrastadas
Em ânsia e mágoa vãs
E ri-se a orquestra, irônica, estridente
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais
Se o velho arqueja se no chão resvala
Ouvem-se gritos o chicote estala
E voam mais e mais
Presa dos elos de uma só cadeia
A multidão faminta cambaleia
E chora e dança ali
Um de raiva delira, outro enlouquece
Outro, que de martírios embrutece
Cantando, geme e ri
No entanto o capitão manda a manobra
E após, fitando o céu que se desdobra
Tão puro sobre o mar
Diz do fumo entre os densos nevoeiros
Vibrai rijo o chicote, marinheiros
Fazei-os mais dançar
E ri-se a orquestra irônica, estridente
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais
Qual num sonho dantesco as sombras voam
Gritos, ais, maldições, preces ressoam
E ri-se satanás
Senhor Deus dos desgraçados
Dizei-me vós, Senhor Deus
Se é loucura se é verdade
Tanto horror perante os céus
Ó mar, por que não apagas
Com a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?
Astros, noite, tempestades
Rolai das imensidades
Varrei os mares, tufão
Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz
Perante a noite confusa
Dize-o tu, severa musa
Musa libérrima, audaz
São os filhos do deserto
Onde a terra esposa a luz
Onde voa em campo aberto
A tribo dos homens nus
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão
Homens simples, fortes, bravos
Hoje míseros escravos
Sem ar, sem luz, sem razão
São mulheres desgraçadas
Como Agar o foi também
Que sedentas, alquebradas
De longe
Bem longe vêm
Trazendo com tíbios passos
Filhos e algemas nos braços
N'alma lágrimas e fel
Como Agar sofrendo tanto
Que nem o leite do pranto
Têm que dar para Ismael
Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas
Viveram moças gentis
Passa um dia a caravana
Quando a virgem na cabana
Cisma das noites nos véus
Adeus, Ó choça do monte
Adeus, Palmeiras da fonte
Adeus, Amores Adeus
Senhor Deus dos desgraçados
Dizei-me vós, Senhor Deus
Se eu deliro Ou se é verdade
Tanto horror perante os céus
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?
Astros noite tempestades
Rolai das imensidades
Varrei os mares, tufão
E existe um povo que a bandeira empresta
Pra cobrir tanta infâmia e cobardia
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria
Meu Deus Meu Deus Mas que bandeira é esta
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio Musa Chora, chora tanto
Que o pavilhão se lave no seu pranto
Auriverde pendão de minha terra
Que a brisa do Brasil beija e balança
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança
Tu, que da liberdade após a guerra
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha
Que servires a um povo de mortalha
Fatalidade atroz que a mente esmaga
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu na vaga
Como um íris no pélago profundo
Mas é infâmia demais
Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo
Andrada, arranca este pendão dos ares
Colombo, fecha a porta de teus mares
The lyrics to Caetano Veloso's song "O Navio Negreiro" depict the horrific conditions of the transatlantic slave trade. The ship is sailing through the ocean, with the deck covered in blood that reflects the red glow of the lanterns. The iron chains clink while the black men dance, and the scene is one of horror and despair. The women are also onboard, and their babies are sucking the blood from their mothers' breasts. Some women are naked and afraid, and they're being dragged around like specters while crying and in anguish. The orchestra mocks these despairing people, and even Satan seems to be laughing.
The chorus repeats two lines, which are asking God if this horror is madness or reality. The verses continue to provide details of the conditions of the ship, with one of the verses about how the captain orders the crew to whip and flog the slaves until they dance. The wheel of the ship is also referenced, and at one point, the poet petitions the stars and the sea to sweep away this stain of human cruelty. The song's final verse talks about the flag of Brazil, which is "fluttering impudently" and "stained with infamy and cowardice." The poet calls on heroes from the New World to tear the flag from the sky and shut the door of the sea so that no more humans will suffer as slaves.
Line by Line Meaning
Estamos em pleno mar
We are in the open sea
Era um sonho dantesco o tombadilho
The deck was a nightmarish dream
Que das luzernas avermelha o brilho
Which reddens the glow of the lanterns
Em sangue a se banhar
Bathing in blood
Tinir de ferros estalar do açoite
The clanging of irons, the cracking of the whip
Legiões de homens negros como a noite
Legions of black men as dark as night
Horrendos a dançar
Horribly dancing
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Black women, breastfeeding
Magras crianças, cujas bocas pretas
Skinny children, with black mouths
Rega o sangue das mães
Watered by their mothers' blood
Outras, moças mas nuas, espantadas
Others, young but naked, terrified
No turbilhão de espectros arrastadas
Dragged into the whirlwind of specters
Em ânsia e mágoa vãs
In futile anguish and sorrow
E ri-se a orquestra, irônica, estridente
And the orchestra laughs, ironic and loud
E da ronda fantástica a serpente
And the serpent of the fantastic circle
Faz doudas espirais
Creates crazy spirals
Se o velho arqueja se no chão resvala
If the old man gasps, if he slips on the floor
Ouvem-se gritos o chicote estala
Shouts are heard, the whip cracks
E voam mais e mais
And they fly more and more
Presa dos elos de uma só cadeia
Caught in the links of a single chain
A multidão faminta cambaleia
The hungry crowd staggers
E chora e dança ali
And cries and dances there
Um de raiva delira, outro enlouquece
One raves in anger, another goes mad
Outro, que de martírios embrutece
Another, who is brutalized by torment
Cantando, geme e ri
Singing, moaning, and laughing
No entanto o capitão manda a manobra
However, the captain orders a maneuver
E após, fitando o céu que se desdobra
And then, looking at the unfolding sky
Tão puro sobre o mar
So pure over the sea
Diz do fumo entre os densos nevoeiros
Speaks of the smoke amid the dense mists
Vibrai rijo o chicote, marinheiros
Whip hard, sailors
Fazei-os mais dançar
Make them dance more
E ri-se a orquestra irônica, estridente
And the orchestra laughs, ironic and loud
E da ronda fantástica a serpente
And the serpent of the fantastic circle
Faz doudas espirais
Creates crazy spirals
Qual num sonho dantesco as sombras voam
As if in a nightmarish dream, the shadows fly
Gritos, ais, maldições, preces ressoam
Screams, groans, curses, prayers resound
E ri-se satanás
And Satan laughs
Senhor Deus dos desgraçados
Lord God of the wretched
Dizei-me vós, Senhor Deus
Tell me, Lord God
Se é loucura se é verdade
If it is madness or truth
Tanto horror perante os céus
Such horror before the heavens
Ó mar, por que não apagas
Oh sea, why do you not erase
Com a esponja de tuas vagas
With the sponge of your waves
De teu manto este borrão?
From your mantle this stain?
Astros, noite, tempestades
Stars, night, storms
Rolai das imensidades
Roll from the immensities
Varrei os mares, tufão
Sweep the seas, typhoon
Quem são estes desgraçados
Who are these wretches
Que não encontram em vós
Who do not find in you
Mais que o rir calmo da turba
More than the calm laughter of the crowd
Que excita a fúria do algoz?
Which provokes the fury of the executioner?
Quem são? Se a estrela se cala
Who are they? If the star falls silent
Se a vaga à pressa resvala
If the wave quickly slides
Como um cúmplice fugaz
Like a fleeting accomplice
Perante a noite confusa
In the face of the confused night
Dize-o tu, severa musa
You tell me, stern muse
Musa libérrima, audaz
Free and audacious muse
São os filhos do deserto
They are the children of the desert
Onde a terra esposa a luz
Where the earth is married to the light
Onde voa em campo aberto
Where it flies in open field
A tribo dos homens nus
The tribe of naked men
São os guerreiros ousados
They are the bold warriors
Que com os tigres mosqueados
Who, with spotted tigers
Combatem na solidão
Fight in solitude
Homens simples, fortes, bravos
Simple, strong, brave men
Hoje míseros escravos
Today miserable slaves
Sem ar, sem luz, sem razão
Without air, without light, without reason
São mulheres desgraçadas
They are wretched women
Como Agar o foi também
Like Hagar was too
Que sedentas, alquebradas
Who, thirsty and weakened
De longe
From afar
Bem longe vêm
Come a long way
Trazendo com tíbios passos
Bringing with timid steps
Filhos e algemas nos braços
Children and chains in their arms
N'alma lágrimas e fel
Tears and bitterness in their souls
Como Agar sofrendo tanto
Like Hagar suffering so much
Que nem o leite do pranto
That she has no tears left to shed
Têm que dar para Ismael
To give to Ishmael
Lá nas areias infindas
There in the infinite sands
Das palmeiras no país
Of the palm trees in the country
Nasceram crianças lindas
Beautiful children were born
Viveram moças gentis
Gentle maidens lived
Passa um dia a caravana
One day the caravan passes
Quando a virgem na cabana
When the virgin in the hut
Cisma das noites nos véus
Muses about the nights in her veils
Adeus, Ó choça do monte
Goodbye, oh hut on the hill
Adeus, Palmeiras da fonte
Goodbye, Palm trees by the spring
Adeus, Amores Adeus
Goodbye, loves, goodbye
Senhor Deus dos desgraçados
Lord God of the wretched
Dizei-me vós, Senhor Deus
Tell me, Lord God
Se eu deliro Ou se é verdade
If I am delirious or if it is true
Tanto horror perante os céus
Such horror before the heavens
Ó mar, por que não apagas
Oh sea, why do you not erase
Co'a esponja de tuas vagas
With the sponge of your waves
De teu manto este borrão?
From your mantle this stain?
Astros noite tempestades
Stars, night, storms
Rolai das imensidades
Roll from the immensities
Varrei os mares, tufão
Sweep the seas, typhoon
E existe um povo que a bandeira empresta
And there is a people who lend their flag
Pra cobrir tanta infâmia e cobardia
To cover so much infamy and cowardice
E deixa-a transformar-se nessa festa
And let it transform into this celebration
Em manto impuro de bacante fria
Into a impure mantle of cold bacchant
Meu Deus Meu Deus Mas que bandeira é esta
My God, my God, but what flag is this
Que impudente na gávea tripudia?
That shamelessly flaunts on the mast?
Silêncio Musa Chora, chora tanto
Silence, muse, cry, cry so much
Que o pavilhão se lave no seu pranto
That the flag be washed in your tears
Auriverde pendão de minha terra
Golden-green flag of my land
Que a brisa do Brasil beija e balança
That the breeze of Brazil kisses and sways
Estandarte que a luz do sol encerra
Standard that holds the light of the sun
E as promessas divinas da esperança
And the divine promises of hope
Tu, que da liberdade após a guerra
You, who from freedom after the war
Foste hasteado dos heróis na lança
Were raised by heroes on the lance
Antes te houvessem roto na batalha
Better if they had torn you in battle
Que servires a um povo de mortalha
Than to serve a people of shrouds
Fatalidade atroz que a mente esmaga
Atrocious fate that crushes the mind
Extingue nesta hora o brigue imundo
Extinguish at this hour the foul brig
O trilho que Colombo abriu na vaga
The trail that Columbus opened in the wave
Como um íris no pélago profundo
Like a rainbow in the deep abyss
Mas é infâmia demais
But it is too much infamy
Da etérea plaga
From the ethereal realm
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo
Rise up, heroes of the New World
Andrada, arranca este pendão dos ares
Andrada, tear this flag from the air
Colombo, fecha a porta de teus mares
Columbus, close the door to your seas
Lyrics © Warner Chappell Music, Inc.
Written by: Toni Vargas, Antonio Cesar De Vargas
Lyrics Licensed & Provided by LyricFind
LETICIA MARQUES FERNANDES
Letra:
Essstamos em pleno mar!
Era um sonho dantesco o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho
Em sangue a se banhar
Tinir de ferros estalar do açoite
Legiões de homens negros como a noite
Horrendos a dançar
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães
Outras, moças, mas nuas, espantadas
No turbilhão de espectros arrastadas
Em ânsia e mágoa vãs
E ri-se a orquestra, irônica, estridente
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais
Se o velho arqueja se no chão resvala
Ouvem-se gritos o chicote estala
E voam mais e mais...
Presa dos elos de uma só cadeia
A multidão faminta cambaleia
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece
Outro, que de martírios embrutece
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra (...que chegou...)
E após, fitando o céu que se desdobra (...agora?)
Tão puro sobre o mar (Meu navio negreiro...)
Diz do fumo entre os densos nevoeiros
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!"
E ri-se a orquestra irônica, estridente
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais!
Qual num sonho dantesco as sombras voam
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!
Senhor Deus dos desgraçados! (...que chegou agora?)
Dizei-me vós, Senhor Deus! (Meu navio negreiro...)
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?
Astros, noite, tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são, se a estrela se cala?
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz
Perante a noite confusa
Dize-o tu, severa musa
Musa libérrima, audaz!
São os filhos do deserto
Onde a terra esposa a luz
Onde voa em campo aberto
A tribo dos homens nus
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão...
Homens simples, fortes, bravos
Hoje míseros escravos
Sem ar, sem luz, sem razão...
São mulheres desgraçadas
Como Agar o foi também
Que sedentas, alquebradas
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos
Filhos e algemas nos braços
N'alma lágrimas e fel
Como Agar sofrendo tanto
Que nem o leite do pranto
Têm que dar para Ismael
Lá nas areias infindas
Das palmeiras no país
Nasceram crianças lindas
Viveram moças gentis
Passa um dia a caravana
Quando a virgem na cabana
Cisma das noites nos véus
Adeus! ó choça do monte!
Adeus palmeiras da fonte!
Adeus amores, adeus!
Senhor Deus dos desgraçados! (...que chegou agora?)
Dizei-me vós, Senhor Deus! (É o navio...)
Se eu deliro... ou se é verdade (...negreiro)
Tanto horror perante os céus
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?
Astros! noite! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
E existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e covardia!
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!
Meu Deus!
Meu Deus, mas que bandeira é esta
Que impudente na gávea tripudia?!
Silêncio, Musa! Chora, chora tanto
Que o pavilhão se lave no seu pranto
Auriverde pendão de minha terra
Que a brisa do Brasil beija e balança
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança
Tu, que da liberdade após a guerra
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha
Que servires a um povo de mortalha!
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu na vaga
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo
Andrada! Arranca este pendão dos ares!
Colombo! Fecha a porta de teus mares!
Que a brisa do Brasil vem devagar assim
(Que a brisa do Brasil vem devagar assim)
(Que a brisa do Brasil vem devagar assim)
(Que a brisa do Brasil...)
Jucivania Souza
O Navio Negreiro
’Stamos em pleno mar
Era um sonho dantesco... o tombadilho,
Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar do açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras, moças... mas nuas, espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs.
E ri-se a orquestra, irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Se o velho arqueja... se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa dos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece...
Outro, que de martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra
E após, fitando o céu que se desdobra
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais!
Qual num sonho dantesco as sombras voam...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanaz!...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noite! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!...
Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são?... Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa musa,
Musa libérrima, audaz!
São os filhos do deserto
Onde a terra esposa a luz.
Onde voa em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados,
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão...
Homens simples, fortes, bravos...
Hoje míseros escravos
Sem ar, sem luz, sem razão...
São mulheres desgraçadas
Como Agar o foi também,
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos
Filhos e algemas nos braços,
N'alma lágrimas e fel.
Como Agar sofrendo tanto
Que nem o leite do pranto
Têm que dar para Ismael...
Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana
Quando a virgem na cabana
Cisma das noites nos véus...
...Adeus! ó choça do monte!...
...Adeus! palmeiras da fonte!...
...Adeus! amores... adeus!...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?
Astros! noite! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!...
E existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?!...
Silêncio!... Musa! chora, chora tanto
Que o pavilhão se lave no seu pranto...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra,
E as promessas divinas da esperança...
Tu, que da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu na vaga,
Como um íris no pélago profundo!...
...Mas é infâmia demais...
Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo...
Andrada! arranca este pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta de teus mares!
LETICIA MARQUES FERNANDES
Letra:
Essstamos em pleno mar!
Era um sonho dantesco o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho
Em sangue a se banhar
Tinir de ferros estalar do açoite
Legiões de homens negros como a noite
Horrendos a dançar
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães
Outras, moças, mas nuas, espantadas
No turbilhão de espectros arrastadas
Em ânsia e mágoa vãs
E ri-se a orquestra, irônica, estridente
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais
Se o velho arqueja se no chão resvala
Ouvem-se gritos o chicote estala
E voam mais e mais...
Presa dos elos de uma só cadeia
A multidão faminta cambaleia
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece
Outro, que de martírios embrutece
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra (...que chegou...)
E após, fitando o céu que se desdobra (...agora?)
Tão puro sobre o mar (Meu navio negreiro...)
Diz do fumo entre os densos nevoeiros
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!"
E ri-se a orquestra irônica, estridente
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais!
Qual num sonho dantesco as sombras voam
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!
Senhor Deus dos desgraçados! (...que chegou agora?)
Dizei-me vós, Senhor Deus! (Meu navio negreiro...)
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?
Astros, noite, tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são, se a estrela se cala?
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz
Perante a noite confusa
Dize-o tu, severa musa
Musa libérrima, audaz!
São os filhos do deserto
Onde a terra esposa a luz
Onde voa em campo aberto
A tribo dos homens nus
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão...
Homens simples, fortes, bravos
Hoje míseros escravos
Sem ar, sem luz, sem razão...
São mulheres desgraçadas
Como Agar o foi também
Que sedentas, alquebradas
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos
Filhos e algemas nos braços
N'alma lágrimas e fel
Como Agar sofrendo tanto
Que nem o leite do pranto
Têm que dar para Ismael
Lá nas areias infindas
Das palmeiras no país
Nasceram crianças lindas
Viveram moças gentis
Passa um dia a caravana
Quando a virgem na cabana
Cisma das noites nos véus
Adeus! ó choça do monte!
Adeus palmeiras da fonte!
Adeus amores, adeus!
Senhor Deus dos desgraçados! (...que chegou agora?)
Dizei-me vós, Senhor Deus! (É o navio...)
Se eu deliro... ou se é verdade (...negreiro)
Tanto horror perante os céus
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?
Astros! noite! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
E existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e covardia!
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!
Meu Deus!
Meu Deus, mas que bandeira é esta
Que impudente na gávea tripudia?!
Silêncio, Musa! Chora, chora tanto
Que o pavilhão se lave no seu pranto
Auriverde pendão de minha terra
Que a brisa do Brasil beija e balança
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança
Tu, que da liberdade após a guerra
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha
Que servires a um povo de mortalha!
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu na vaga
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo
Andrada! Arranca este pendão dos ares!
Colombo! Fecha a porta de teus mares!
Que a brisa do Brasil vem devagar assim
(Que a brisa do Brasil vem devagar assim)
(Que a brisa do Brasil vem devagar assim)
(Que a brisa do Brasil...)
Oliver 123
Ficou mais fácil acompanhando com a letra, obrigada ❤
Eliana Regina Palomares
A beleza incomensurável do poema "O navio negreiro", as interpretações geniais de Caetano e Bethânia, as imagens, o backing vocal, a música. Perfeição !!!
Joaquim Amorim
O poeta, os poetas, que texto, que declamação, que interpretação, pensem, pensem, pensem, viva Castro Alves, Salve Caetano, salve Bethânia!
Gessyca Mahin
Genteee n me canso de ouvir essa música, e orgulho de poder apresentar uma coreografia dessa música ❤
leidiane carvalho
Tem vídeo da sua coreografia? Gostaria de mostrar para meus alunos
Luis Hipolito
Genial interpretação do poema O Navio Negreiro, de Castro Alves, nas vozes de Caetano Veloso e Maria Bethânia.
Dalton B
Castro Alves é incrível!
Gilson Nascimento
Lindo esse Brasil de castro Alves, Caetano e Bethânia.
Angelina Delory
A língua Portuguesa é lindíssima