Soldados
Legiгo Urbana Lyrics


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Nossas meninas estão longe daqui
Não temos com quem chorar e nem pra onde ir
Se lembra quando era só brincadeira
Fingir ser soldado a tarde inteira?
Mas agora a coragem que temos no coração
Parece medo da morte mas não era então

Tenho medo de lhe dizer o que eu quero tanto
Tenho medo e eu sei porquê
Estamos esperando
Quem é o inimigo?
Quem é você?
Nos defendemos tanto tanto sem saber
Porque lutar

Nossas meninas estão longe daqui
E de repente eu vi você cair
Não sei armar o que eu senti
Não sei dizer que vi você ali
Quem vai saber o que você sentiu?
Quem vai saber o que você pensou?

Quem vai dizer agora o que eu não fiz?
Como explicar pra você o que eu quis
Somos soldados




Pedindo esmola
E a gente não queria lutar

Overall Meaning

The song "Soldados" by Legião Urbana is a powerful commentary on the experience of soldiers and the brutality of war. The first stanza speaks of the distance that soldiers feel from their families and loved ones, as well as the loss of innocence that inevitably accompanies the horrors of war. The lyrics are poignant and reflective, as the singer remembers the days of childhood when it was all just a game to pretend to be a soldier for a day. However, the reality now is that their heart is filled with fear and the courage that they possessed back then is quickly fading away, indicating the harsh reality of their surroundings.


The second stanza delves deep into the fear that the soldiers feel, as well as the confusion and uncertainty they experience as they question who the real enemy is. The lyrics highlight the fact that soldiers are caught in a difficult situation of having to defend themselves without knowing if they are doing the right thing. Furthermore, they are grappling with the complex emotions of fear, anxiety, and despair, which make it difficult for them to express their desires and intentions. The chorus reflects the soldiers' sadness and vulnerability as they beg for mercy, yearning for the war to come to an end.


Line by Line Meaning

Nossas meninas estão longe daqui
Our loved ones are far away from us.


Não temos com quem chorar e nem pra onde ir
We have no one to cry to or go to.


Se lembra quando era só brincadeira
Do you remember when it was just a game?


Fingir ser soldado a tarde inteira?
Pretend to be soldiers all afternoon?


Mas agora a coragem que temos no coração
But now the bravery in our hearts


Parece medo da morte mas não era então
Seems like fear of death, but it wasn't back then.


Tenho medo de lhe dizer o que eu quero tanto
I'm afraid to tell you what I want so badly.


Tenho medo e eu sei porquê
I'm scared, and I know why.


Estamos esperando
We are waiting.


Quem é o inimigo?
Who is the enemy?


Quem é você?
Who are you?


Nos defendemos tanto tanto sem saber
We defend ourselves so much without knowing


Porque lutar
why fight?


E de repente eu vi você cair
Suddenly I saw you fall.


Não sei armar o que eu senti
I don't know how to express what I felt.


Não sei dizer que vi você ali
I can't say that I saw you there.


Quem vai saber o que você sentiu?
Who will know what you felt?


Quem vai saber o que você pensou?
Who will know what you thought?


Quem vai dizer agora o que eu não fiz?
Who will say now what I didn't do?


Como explicar pra você o que eu quis
How to explain to you what I wanted


Somos soldados
We are soldiers.


Pedindo esmola
Begging for charity.


E a gente não queria lutar
And we didn't want to fight.




Lyrics © OBO APRA/AMCOS

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Luciano Mannarino

O título "Acrilic on canvas" (2º álbum) remete a uma técnica de pintura 49: acrílico sobre tela. O vocabulário está ligado às artes plásticas, por isso, palavras como "traços", "sombra" são alternadas com reflexões do eu-lírico sobre o objeto amado. Em seguida, mais palavras relacionadas à pintura, como "carvão", "pontos de fuga" 50, "tela", "paleta", "cavalete" são novamente interrompidas pelos pensamentos do eu-lírico. A proposta da letra é bastante criativa. Traz a pintura para o mundo das palavras. São duas manifestações artísticas distintas que aqui se unem, formando uma declaração de amor das mais originais. O ouvinte/leitor é capaz de criar a imagem das situações vividas e idealizadas através das palavras: "De você fiz o desenho mais perfeito que se fez: / Os traços copiei do que não aconteceu. / As cores que escolhi, entre as tintas que inventei, ". É a descrição do processo de idealização do objeto amado.

A música começa com um verso isolado que reflete a solidão: "- É saudade então." A letra trata a temática de despedida (4ª etapa), consequentemente, aborda a decepção, revelando uma obsessão do eu em relação a planos: "Misturei com a promessa que nós dois nunca fizemos / De um dia sermos três." Ele está sempre projetando para o futuro, quer construir um relacionamento ideal e o filho seria a síntese e o produto do amor.

A antítese do verso "Trabalhei você em luz e sombra." mostra que o objeto de desejo é razão e sentimento, certeza e dúvida, salvação e perdição, conhecimento e desconhecimento. É a figura do eu dividido entre o que é aceito e o que é proibido até mesmo dentro dele, pois a letra toda evidencia uma luta entre o sentimento e a incompatibilidade deste com o relacionamento.

A terceira estrofe é uma quebra da idealização do outro, pois apresenta o comportamento do objeto amado e a desilusão: "Era sempre: / - Não foi por mal. Eu juro que nunca / Quis deixar você tão triste. / Sempre as mesmas desculpas / E desculpas nem sempre são sinceras - / Quase nunca são." É o discurso das dúvidas, porque se quer o outro, apesar de tudo, e se quer recuperar um estado de graça perdido.

Todo o universo do eu-lírico é construído através do outro, ele torna pessoais os objetos. A saudade faz com que o quadro precise de retoques, à medida que novas recordações vão dando mais vida ao desenho iniciado: "Preparei a minha tela / Com pedaços de lençóis / Que não chegamos a sujar. / A armação fiz com madeira / Da janela do seu quarto. / Do portão da sua casa / Fiz paleta e cavalete / E com as lágrimas que não brincaram com você / Destilei óleo de linhaça / E da sua cama arranquei pedaços / Que talhei em estiletes / De tamanhos diferentes / E fiz então / Pincéis com seus cabelos. / Fiz carvão do batom que roubei de você / e com ele marquei dois pontos de fuga / E rabisquei meu horizonte."A letra é realmente a pintura de um quadro que tem a função de representar o outro, lembrando até a pintura clássica e renascentista, pois estas mantêm um compromisso com a fidelidade da representação do objeto pintado, mas, é claro, sempre de acordo com a visão do pintor desse objeto.

Mas, na estrofe, "Era sempre: / - Não foi por mal. Eu juro que não foi por mal / Eu não queria machucar você: prometo que isso nunca vai / Acontecer mais uma vez. / E era sempre, sempre o mesmo novamente - / A mesma traição. // Às vezes é difícil esquecer: / - Sinto muito, ela não mora mais aqui.", percebe-se que há novamente uma quebra da idealização do objeto amado. O outro, que ele imaginava, torna-se, na verdade, a pintura: "Mas então por que eu finjo que acredito no que invento? / Nada disso aconteceu assim - não foi desse jeito. / Ninguém sofreu: é só você que provoca essa saudade vazia / Tentando pintar essas flores com o nome / De 'amor-perfeito' e 'não-te-esqueças-de-mim'." A conclusão do fracasso amoroso resulta não mais no retrato do objeto amado, mas somente em flores, símbolo do relacionamento. A pintura em si já é simbólica, porque ela é uma representação, seja de uma imagem real, seja de uma imagem que busque expor idéias, expectativas, delírios. Na letra, o objeto amado é representado pela flor, que é símbolo de efemeridade, de harmonia, de juventude, logo, é a representação desse amor que não durou, sintetizando a história vivida em "amor-perfeito" (antes) e em "não-te-esqueças-de-mim" (depois). Mesmo havendo a decepção, o eu não consegue atribuir à imagem do outro aspectos negativos.

Vale lembrar que, na letra, não há a voz do outro, apenas o eu-lírico fala desse amor. O outro é representado, não tem voz, apesar dos diálogos representados por travessão. E o fato de apenas um dos amantes fazer o relato torna o discurso interessante, pois não se trata da busca pela verdade, mas sim da análise das argumentações utilizadas por quem sofre uma desilusão amorosa.

Notas

49 A poesia e a pintura transitam pela natureza do poético. Entendemos poético aqui como tudo aquilo que trabalha com a sensibilidade. Diferente de um texto jornalístico, por exemplo, o poema deve situar-se no entredito. Ele nunca diz tudo e permite várias leituras. Outro ponto de contato entre poesia e pintura é que ambas lidam com o espaço.

50 Ponto de fuga é um elemento do desenho de perspectiva, uma forma de marcar e calcular corretamente perspectivas e distância em desenhos de paisagens, ou mesmo para desenhos de sólidos geométricos, objetos e figuras humanas. Imagine uma entrada em campo aberto. Se você olhar para a estrada até onde a vista alcança, verá que os lados parecem se encontrar no horizonte. Em um desenho, o ponto onde os lados da estrada se encontram na linha do horizonte corresponde ao ponto de fuga relativo a essa estrada. O mesmo serviria, por exemplo, para postes que acompanhassem essa estrada e que diminuiriam de tamanho até chegarem ao ponto de fuga, na linha do horizonte.

(CASTILHO, Angélica, SCHLUDE, Erica. Depois do fim. Vida, amor e morte nas canções da Legião Urbana. Rio de Janeiro: Hama, 2002.)
(p. 159-162)



carlos henrique carlin

É saudade, então e mais uma vez
De você fiz o desenho mais perfeito que se fez
Os traços copiei do que não aconteceu
As cores que escolhi entre as tintas que inventei
Misturei com a promessa que nós dois nunca fizemos
De um dia sermos três
Trabalhei você em luz e sombra

E era sempre: Não foi por mal
Eu juro que nunca quis deixar você tão triste
Sempre as mesmas desculpas
E desculpas nem sempre são sinceras
Quase nunca são

Preparei a minha tela
Com pedaços de lençóis que não chegamos a sujar
A armação fiz com madeira da janela do seu quarto
Do portão da sua casa fiz paleta e cavalete
E com lágrimas que não brincaram com você
Destilei óleo de linhaça
Da sua cama arranquei pedaços
Que talhei em estiletes de tamanhos diferentes
E fiz, então, pincéis com seus cabelos
Fiz carvão do batom que roubei de você
E com ele marquei dois pontos de fuga
E rabisquei meu horizonte

E era sempre: Não foi por mal
Eu juro que não foi por mal, eu não queria machucar você
Prometo que isso nunca vai acontecer mais uma vez
E era sempre, sempre o mesmo novamente
A mesma traição

Às vezes é difícil esquecer
Sinto muito, ela não mora mais aqui

Mas então, por que eu finjo
Que acredito no que invento?
Nada disso aconteceu assim
Não foi desse jeito
Ninguém sofreu
É só você que me provoca essa saudade vazia
Tentando pintar essas flores com o nome
De amor-perfeito
E não-te-esqueças-de-mim



RONNYE CASTRO

Às vezes é difícil esquecer:
"Sinto muito, ela não mora mais aqui"
Mas então, por que eu finjo
Que acredito no que invento?
Nada disso aconteceu assim
Não foi desse jeito
Ninguém sofreu
E é só você que me provoca essa saudade vazia
Tentando pintar essas flores com o nome
De "amor-perfeito"
E "não te esqueças de mim"



Vinicius Sodre

É saudade, então
E mais uma vez
De você fiz o desenho mais perfeito que se fez
Os traços copiei do que não aconteceu
As cores que escolhi entre as tintas que inventei
Misturei com a promessa que nós dois nunca fizemos
De um dia sermos três
Trabalhei você em luz e sombra

E era sempre, Não foi por mal
Eu juro que nunca quis deixar você tão triste
Sempre as mesmas desculpas
E desculpas nem sempre são sinceras
Quase nunca são

Preparei a minha tela
Com pedaços de lençóis que não chegamos a sujar
A armação fiz com madeira
Da janela do seu quarto
Do portão da sua casa
Fiz paleta e cavalete
E com lágrimas que não brincaram com você
Destilei óleo de linhaça
Da sua cama arranquei pedaços
Que talhei em estiletes de tamanhos diferentes
E fiz, então, pincéis com seus cabelos
Fiz carvão do baton que roubei de você
E com ele marquei dois pontos de fuga
E rabisquei meu horizonte

E era sempre, Não foi por mal
Eu juro que não foi por mal
Eu não queria machucar você
Prometo que isso nunca vai acontecer mais uma vez

E era sempre, sempre o mesmo novamente
A mesma traição

Às vezes é difícil esquecer:
"Sinto muito, ela não mora mais aqui"
Mas então, por que eu finjo
Que acredito no que invento?
Nada disso aconteceu assim
Não foi desse jeito
Ninguém sofreu
É só você que me provoca essa saudade vazia
Tentando pintar essas flores com o nome
De "amor-perfeito"
E "não-te-esqueças-de-mim"



Augusto Santos

É saudade, então
E mais uma vez
De você fiz o desenho
Mais perfeito que se fez
Os traços copiei
Do que não aconteceu
As cores que escolhi
Dentre as tintas que inventei
Misturei com a promessa
Que nós dois nunca fizemos
De um dia sermos três

Trabalhei você
Em luz e sombra
E era sempre
Não foi por mal
Eu juro que nunca quis deixar você tão triste
Sempre as mesmas desculpas
E desculpas nem sempre são sinceras
Quase nunca são
Preparei a minha tela

Com pedaços de lençóis
Que não chegamos a sujar
A armação fiz com madeira
Da janela do seu quarto
Do portão da sua casa
Fiz paleta e cavalete
E com as lágrimas que não brincaram com você
Destilei óleo de linhaça
E da sua cama arranquei pedaços
Que talhei em estiletes de tamanhos diferentes

E fiz então, pincéis com seus cabelos
Fiz carvão do batom que roubei de você
E com ele marquei dois pontos de fuga
E rabisquei meu horizonte
E era sempre
Não foi por mal
Eu juro que não foi por mal, eu não queria machucar você
Prometo que isso não vai acontecer mais uma vez
E era sempre, sempre o mesmo novamente

A mesma traição
Às vezes é difícil esquecer
Sinto muito, ela não mora mais aqui
Mas então porque eu finjo
Que acredito no que invento
Nada disso aconteceu assim
Não foi desse jeito
Ninguém sofreu
E é só você
Que provoca essa saudade vazia
Tentando pintar essas flores com o nome
De amor-perfeito e não-te-esqueças-de-mim



𝚈𝚘𝚞𝚗𝚐𝚇 369

LETRA

É saudade, então
E mais uma vez
De você fiz o desenho
Mais perfeito que se fez
Os traços copiei
Do que não aconteceu
As cores que escolhi
Dentre as tintas que inventei
Misturei com a promessa
Que nós dois nunca fizemos
De um dia sermos três
Trabalhei você
Em luz e sombra
E era sempre
Não foi por mal
Eu juro que nunca quis deixar você tão triste
Sempre as mesmas desculpas
E desculpas nem sempre são sinceras
Quase nunca são
Preparei a minha tela
Com pedaços de lençóis
Que não chegamos a sujar
A armação fiz com madeira
Da janela do seu quarto
Do portão da sua casa
Fiz paleta e cavalete
E com as lágrimas que não brincaram com você
Destilei óleo de linhaça
E da sua cama arranquei pedaços
Que talhei em estiletes de tamanhos diferentes
E fiz então, pincéis com seus cabelos
Fiz carvão do batom que roubei de você
E com ele marquei dois pontos de fuga
E rabisquei meu horizonte
E era sempre
Não foi por mal
Eu juro que não foi por mal, eu não queria machucar você
Prometo que isso não vai acontecer mais uma vez
E era sempre, sempre o mesmo novamente
A mesma traição
Às vezes é difícil esquecer
Sinto muito, ela não mora mais aqui
Mas então porque eu finjo
Que acredito no que invento
Nada disso aconteceu assim
Não foi desse jeito
Ninguém sofreu
E é só você
Que provoca essa saudade vazia
Tentando pintar essas flores com o nome
De amor-perfeito e não-te-esqueças-de-mim



luis fernando Mendes

Isto é mais que letra, é puro diamante
É saudade, então e mais uma vez
De você fiz o desenho mais perfeito que se fez
Os traços copiei do que não aconteceu
As cores que escolhi entre as tintas que inventei
Misturei com a promessa que nós dois nunca fizemos
De um dia sermos três
Trabalhei você em luz e sombra

E era sempre: Não foi por mal
Eu juro que nunca quis deixar você tão triste
Sempre as mesmas desculpas
E desculpas nem sempre são sinceras
Quase nunca são

Preparei a minha tela
Com pedaços de lençóis que não chegamos a sujar
A armação fiz com madeira da janela do seu quarto
Do portão da sua casa fiz paleta e cavalete
E com lágrimas que não brincaram com você
Destilei óleo de linhaça
Da sua cama arranquei pedaços
Que talhei em estiletes de tamanhos diferentes
E fiz, então, pincéis com seus cabelos
Fiz carvão do batom que roubei de você
E com ele marquei dois pontos de fuga
E rabisquei meu horizonte

E era sempre: Não foi por mal
Eu juro que não foi por mal, eu não queria machucar você
Prometo que isso nunca vai acontecer mais uma vez
E era sempre, sempre o mesmo novamente
A mesma traição

Às vezes é difícil esquecer
Sinto muito, ela não mora mais aqui

Mas então, por que eu finjo
Que acredito no que invento?
Nada disso aconteceu assim
Não foi desse jeito
Ninguém sofreu
É só você que me provoca essa saudade vazia
Tentando pintar essas flores com o nome
De amor-perfeito
E não-te-esqueças-de-mim



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Luciano Mannarino

O título "Acrilic on canvas" (2º álbum) remete a uma técnica de pintura 49: acrílico sobre tela. O vocabulário está ligado às artes plásticas, por isso, palavras como "traços", "sombra" são alternadas com reflexões do eu-lírico sobre o objeto amado. Em seguida, mais palavras relacionadas à pintura, como "carvão", "pontos de fuga" 50, "tela", "paleta", "cavalete" são novamente interrompidas pelos pensamentos do eu-lírico. A proposta da letra é bastante criativa. Traz a pintura para o mundo das palavras. São duas manifestações artísticas distintas que aqui se unem, formando uma declaração de amor das mais originais. O ouvinte/leitor é capaz de criar a imagem das situações vividas e idealizadas através das palavras: "De você fiz o desenho mais perfeito que se fez: / Os traços copiei do que não aconteceu. / As cores que escolhi, entre as tintas que inventei, ". É a descrição do processo de idealização do objeto amado.

A música começa com um verso isolado que reflete a solidão: "- É saudade então." A letra trata a temática de despedida (4ª etapa), consequentemente, aborda a decepção, revelando uma obsessão do eu em relação a planos: "Misturei com a promessa que nós dois nunca fizemos / De um dia sermos três." Ele está sempre projetando para o futuro, quer construir um relacionamento ideal e o filho seria a síntese e o produto do amor.

A antítese do verso "Trabalhei você em luz e sombra." mostra que o objeto de desejo é razão e sentimento, certeza e dúvida, salvação e perdição, conhecimento e desconhecimento. É a figura do eu dividido entre o que é aceito e o que é proibido até mesmo dentro dele, pois a letra toda evidencia uma luta entre o sentimento e a incompatibilidade deste com o relacionamento.

A terceira estrofe é uma quebra da idealização do outro, pois apresenta o comportamento do objeto amado e a desilusão: "Era sempre: / - Não foi por mal. Eu juro que nunca / Quis deixar você tão triste. / Sempre as mesmas desculpas / E desculpas nem sempre são sinceras - / Quase nunca são." É o discurso das dúvidas, porque se quer o outro, apesar de tudo, e se quer recuperar um estado de graça perdido.

Todo o universo do eu-lírico é construído através do outro, ele torna pessoais os objetos. A saudade faz com que o quadro precise de retoques, à medida que novas recordações vão dando mais vida ao desenho iniciado: "Preparei a minha tela / Com pedaços de lençóis / Que não chegamos a sujar. / A armação fiz com madeira / Da janela do seu quarto. / Do portão da sua casa / Fiz paleta e cavalete / E com as lágrimas que não brincaram com você / Destilei óleo de linhaça / E da sua cama arranquei pedaços / Que talhei em estiletes / De tamanhos diferentes / E fiz então / Pincéis com seus cabelos. / Fiz carvão do batom que roubei de você / e com ele marquei dois pontos de fuga / E rabisquei meu horizonte."A letra é realmente a pintura de um quadro que tem a função de representar o outro, lembrando até a pintura clássica e renascentista, pois estas mantêm um compromisso com a fidelidade da representação do objeto pintado, mas, é claro, sempre de acordo com a visão do pintor desse objeto.

Mas, na estrofe, "Era sempre: / - Não foi por mal. Eu juro que não foi por mal / Eu não queria machucar você: prometo que isso nunca vai / Acontecer mais uma vez. / E era sempre, sempre o mesmo novamente - / A mesma traição. // Às vezes é difícil esquecer: / - Sinto muito, ela não mora mais aqui.", percebe-se que há novamente uma quebra da idealização do objeto amado. O outro, que ele imaginava, torna-se, na verdade, a pintura: "Mas então por que eu finjo que acredito no que invento? / Nada disso aconteceu assim - não foi desse jeito. / Ninguém sofreu: é só você que provoca essa saudade vazia / Tentando pintar essas flores com o nome / De 'amor-perfeito' e 'não-te-esqueças-de-mim'." A conclusão do fracasso amoroso resulta não mais no retrato do objeto amado, mas somente em flores, símbolo do relacionamento. A pintura em si já é simbólica, porque ela é uma representação, seja de uma imagem real, seja de uma imagem que busque expor idéias, expectativas, delírios. Na letra, o objeto amado é representado pela flor, que é símbolo de efemeridade, de harmonia, de juventude, logo, é a representação desse amor que não durou, sintetizando a história vivida em "amor-perfeito" (antes) e em "não-te-esqueças-de-mim" (depois). Mesmo havendo a decepção, o eu não consegue atribuir à imagem do outro aspectos negativos.

Vale lembrar que, na letra, não há a voz do outro, apenas o eu-lírico fala desse amor. O outro é representado, não tem voz, apesar dos diálogos representados por travessão. E o fato de apenas um dos amantes fazer o relato torna o discurso interessante, pois não se trata da busca pela verdade, mas sim da análise das argumentações utilizadas por quem sofre uma desilusão amorosa.

Notas

49 A poesia e a pintura transitam pela natureza do poético. Entendemos poético aqui como tudo aquilo que trabalha com a sensibilidade. Diferente de um texto jornalístico, por exemplo, o poema deve situar-se no entredito. Ele nunca diz tudo e permite várias leituras. Outro ponto de contato entre poesia e pintura é que ambas lidam com o espaço.

50 Ponto de fuga é um elemento do desenho de perspectiva, uma forma de marcar e calcular corretamente perspectivas e distância em desenhos de paisagens, ou mesmo para desenhos de sólidos geométricos, objetos e figuras humanas. Imagine uma entrada em campo aberto. Se você olhar para a estrada até onde a vista alcança, verá que os lados parecem se encontrar no horizonte. Em um desenho, o ponto onde os lados da estrada se encontram na linha do horizonte corresponde ao ponto de fuga relativo a essa estrada. O mesmo serviria, por exemplo, para postes que acompanhassem essa estrada e que diminuiriam de tamanho até chegarem ao ponto de fuga, na linha do horizonte.

(CASTILHO, Angélica, SCHLUDE, Erica. Depois do fim. Vida, amor e morte nas canções da Legião Urbana. Rio de Janeiro: Hama, 2002.)
(p. 159-162)

Gomes Sousa

Mano do céu. Depois de uma análise dessa que fez, fica difícil encontrar palavras pra elogiar vc.
Melhor que do quê escreveu sobre a letra dessa música, só ouvindo a própria.
Legião é Foda!!!
Renato Russo era monstro.
*25/12/18 às 01h43

Silvia Hermogenes

Nossa!! Que interpretação maravilhosa!! 😍

Marcelo valente Valente

👏👏👏👏👏👏👏👏

malu coppola

Perfeito

fabio graça

Cara parabéns pela explanação do tema de lindíssima canção, tenho muita curiosidade sobre as letras da Legião, nunca são o que parece é dificilmente decifraveis.

13 More Replies...

Marcos Gubolin

Está canção é algo místico, simplismente sobrenatural! Arranjos e vocal, intocáveis!
O cara não canta, ele conversa, não existe refrão, gênio! Experimenta ouvir no fone de ouvidos, você viaja, pira, voa longe!!!

brasileiropsb

Disse tudo...concordo com cada palavra que li

Emanoela Silva Araujo

Sem dúvidas...e show essa música. Cheia de mistérios e significado...🥰

Braulio de Araujo Caldas

Pode crer, estou ouvindo no fone de ouvido, volume máximo... As vezes canto andando na rua como se eu estivesse sozinho e nem tô pra quem acha que sou louco. Kkkk

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