Complexo de épico
Tom Zé Lyrics


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Todo compositor brasileiro
é um complexado.
Por que então esta mania danada,
esta preocupação
de falar tão sério,
de parecer tão sério
de ser tão sério
de sorrir tão sério
de se chorar tão sério
de brincar tão sério
de amar tão sério?

Ai, meu Deus do céu,
vai ser sério assim no inferno!

Por que então esta metáfora-coringa
chamada "válida",
que não lhe sai da boca,
como se algum pesadelo
estivesse ameaçando
os nossos compassos
com cadeiras de roda, roda, roda?

E por que então essa vontade
de parecer herói
ou professor universitário
(aquela tal classe
que ou passa a aprender com os alunos
-- quer dizer, com a rua --
ou não vai sobreviver)?

Porque a cobra
já começou
a comer a si mesma pela cauda,




sendo ao mesmo tempo
a fome e a comida.

Overall Meaning

The song "Complexo de" by Tom Zé is a commentary on the seriousness and self-importance of Brazilian composers. Tom Zé suggests that all Brazilian composers are complexed, feeling the need to be serious in their lyrics, appearances, and actions. He questions why do they have to be so serious, to the point of being comical in their seriousness. The lyrics seem to imply that this seriousness is something that they are afflicted with and cannot help. He likens this complex to a nightmare and suggests that they are making music that is not authentic because they are so obsessed with sounding clever and sophisticated.


Tom Zé also touches on the use of metaphors in Brazilian music, which he refers to as a "corporate metaphor." He points out that this is a cliche and is used too often by composers in order to sound profound. Additionally, he criticizes the desire of some composers to appear as heroes or as university professors, to the point of losing touch with the real world. He appears to be pointing out that these composers are disconnected from their audience and are creating music that doesn't resonate with them.


Overall, Tom Zé is criticizing the seriousness of Brazilian composers and is urging them to rethink their approach to music. Through this song, he encourages them to find a more authentic and meaningful approach to their work.


Line by Line Meaning

Todo compositor brasileiro
Tom Zé believes that every Brazilian composer has a complex.


é um complexado.
He believes that this complex is inherent in these artists.


Por que então esta mania danada,
Tom Zé wonders why this tendency persists among these composers.


esta preocupação
He asks why they're so worried


de falar tão sério,
about speaking so seriously,


de parecer tão sério
and appearing so serious.


de ser tão sério
He also questions why they take themselves so seriously,


de sorrir tão sério
smiling so seriously,


de se chorar tão sério
crying so seriously,


de brincar tão sério
playing so seriously,


de amar tão sério?
and even loving so seriously?


Ai, meu Deus do céu,
Tom Zé is exasperated and appeals to a higher power.


vai ser sério assim no inferno!
He exclaims that things could hardly be more serious.


Por que então esta metáfora-coringa
He's curious about the use of a clichéd metaphor.


chamada "válida",
which is referred to as valid by the composers.


que não lhe sai da boca,
He notices that they use this metaphor frequently.


como se algum pesadelo
Tom Zé suggests that they use it like a nightmare


estivesse ameaçando
that threatens the rhythm and melody.


os nossos compassos


com cadeiras de roda, roda, roda?
using wheelchairs to disrupt the flow of the music?


E por que então essa vontade
Tom Zé is also curious about another trait among composers.


de parecer herói
They often try to appear heroic.


ou professor universitário
Or like a college professor.


(aquela tal classe
He describes the group of university professors as


que ou passa a aprender com os alunos
those who learn from their students or


-- quer dizer, com a rua --
even from the streets--


ou não vai sobreviver)?
because they won't survive without learning.


Porque a cobra
Tom Zé alludes to the metaphor of a snake eating its own tail.


já começou
He implies that this idea is already in motion.


a comer a si mesma pela cauda,
It's self-destructive because the snake cannot survive by eating its own tail.


sendo ao mesmo tempo
This creates a destructive cycle of


a fome e a comida.
hunger and sustenance feeding into each other.




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@hugo888888888


Todo compositor brasileiro
 é um complexado.
Por que então esta mania danada,
 esta preocupação
 de falar tão sério,
 de parecer tão sério
 de ser tão sério
 de sorrir tão sério
 de chorar tão sério
 de brincar tão sério
 de amar tão sério?
Ai, meu Deus do céu,
 vai ser sério assim no inferno!
Por que então esta metáfora-coringa
 chamada "válida",
 que não lhe sai da boca,
 como se algum pesadelo
 estivesse ameaçando
 os nossos compassos
 com cadeiras de roda, roda, roda, roda?
E por que então esta vontade
 de parecer herói
 ou professor universitário
 (aquela tal classe
 que, ou passa a aprender com os alunos
 - quer dizer, com a rua -
 ou não vai sobreviver)?
Porque a cobra
 já começou
 a comer a si mesma pela cauda,
 sendo ao mesmo tempo
 a fome e a comida.



@carlosmatos1142

EMÍLIA SARAIVA NERY,
extracto de "Nos Jardins da Política da Imprensa Cantada de Tom Zé":

MÚSICA DE PROTESTO OU JOGO COGNITIVO COM A PLATÉIA?

«Após a sua trajetória de músico de protesto nos anos 1960 [...] Tom Zé em declarações e cantigas repórteres, sobretudo aquelas realizadas a partir dos anos 1970, criticou a classificação de sua arte como música de protesto. Para tanto, diferenciou protesto de provocação do cognitivo, e não do contemplativo, do público da seguinte maneira:
"Eu trabalho com música que as pessoas confundem com música engajada/de protesto. Nessas palavras, têm várias nuances. A canção de protesto como é registrada no dicionário é o método jesuítico com a novidade da palavra de ordem. E eu não pratico isso. Eu pratico observar a sociedade quando ela baixa a guarda por descuido, fotografar rapidamente falando metaforicamente, e depois tentar descrever aquilo que ela não pode confessar. Isso não é música de protesto. Isso é música que pode aumentar a capacidade de discernimento da platéia" (ZÉ, 2009).
Em outro relato, Tom Zé conceitua o que ele considerava atitude revolucionária na MPB do período em estudo. Como também, alerta para certo fanatismo e certa blindagem trazida pelo rótulo músico de protesto. Dito em suas palavras:
"O material com que eu produzia uma coisa que eu achava de fato revolucionária eram a novidade e a criatividade musical. [...] Então, a minha forma de abordar a criação e o que seja a minha forma de atuar é modificar a vida pela própria maneira de modificar a canção. Não é algo que esteja nos dicionários e que possa ser identificado como coisa engajada. [...] Existe também na questão do engajamento uma certa facilidade, um certo ‘estar salvo’ , por se definir como praticante de uma ‘religião’. [...], quer dizer, como não sou de esquerda, cada atitude que tomo, tenho que sopesar, tenho que considerar, tenho que ter a maior responsabilidade por ela. O esquerdista, não, ele já tem o endosso, já tem ‘Deus em si’. Tudo que ele faz já está cristalizado por uma lei eterna, por um dogma que o protege" (ZÉ, 2011).
Na cantiga repórter 'Complexo de Épico', o músico baiano fez uma série de críticas de forma aberta, nas quais queria, por exemplo, o fim da censura para não ter o uso de tantas metáforas nas canções: “Por que então esta metáfora-coringa/chamada "válida"/ que não lhe sai da boca/ como se algum pesadelo/ estivesse ameaçando/ os nossos compassos/ com cadeiras de roda, roda, roda?” Mostrou através de um jogo verbal, no título da cantiga, com a formulação freudiana do 'Complexo de Édipo', uma vontade de exibir para o seu público a verdade para além dos protestos vigentes. Como também, perguntou por que as coisas deveriam ser tão sérias seguindo o rigor militar. Nesse sentido, sabia e acreditava que a Ditadura Civil-militar estava acabando com ela mesma, de forma arbitrária. Esse tipo de crítica fica exposto na letra principalmente na referência à ditadura quando diz que a “cobra”, aqui compreendida como sendo uma alusão à ditadura por ser rápida e traiçoeira como uma cobra, já está começando a se autodestruir por suas próprias armas. De uma maneira geral, essa é uma primeira leitura que pode ser realizada a partir dos versos a seguir:
"Todo compositor brasileiro/ é um complexado/ Por que então esta mania danada/ esta preocupação de falar tão sério/ de parecer tão sério/ de ser tão sério/ de sorrir tão sério/ de se chorar tão sério/ de brincar tão sério/ de amar tão sério?/ Ai, meu Deus do céu/ vai ser sério assim no inferno!/ Por que então esta metáforacoringa/ chamada 'válida'/ que não lhe sai da boca/ como se algum pesadelo/ estivesse ameaçando/ os nossos compassos/ com cadeiras de roda, roda, roda?/ E por que então essa vontade/ de parecer herói/ ou professor universitário/ (aquela tal classe que ou passa a aprender com os alunos -- quer dizer, com a rua -- ou não vai sobreviver)?/ Porque a cobra/já começou a comer a si mesma pela cauda/ sendo ao mesmo tempo/ a fome e a comida".»

(continua, abaixo)



@carlosmatos1142

(continuação)

«A cantiga em questão pode ser vista através de uma leitura mais acurada como uma síntese do pensamento de Tom Zé sobre o período em estudo, e sua crítica é direcionada para os seus companheiros de profissão, os “músicos de protesto”, para os críticos musicais, para a academia, para a sociedade em geral.
"Alguns críticos de música a consideram uma resposta a canção Épico que Caetano Veloso compôs quando retornou do exílio e que integrou o seu disco mais controverso 'Araçá azul' (1973), inclusive o arranjo feito pelo maestro Rogério Duprat para esta música de Caetano, pode se dizer foi inspirado na música 'Não Buzine que Eu Estou Paquerando', em que Tom Zé misturou buzinas, reproduziu sons de carro e da rua, presente em seu primeiro disco gravado em 1968. Nesta música Caetano enfoca a situação do músico brasileiro, alçando-o quase ao papel de um herói que sofreu, lutou e resistiu a tudo, provando seu valor e sua importância na e para a sociedade" (FUOCO, 2003).
Por sinal, Tom Zé chegou a criticar a atribuição de 'subversivo' ao Caetano Veloso e a sua respectiva prisão pela Ditadura Civil-Militar, pois seu parceiro nunca teria feito uma música de protesto como o fez, por exemplo, o músico Geraldo Vandré:
"Enfim, os grandes naqueles dias eram Caetano e os coturnos. Um pela graça, outros pela força concreta. E Caetano era tão indiferente! Vandré, por exemplo, não. Vandré ainda lhes fazia versos e em suas canções falava até de ‘soldados armados, amados ou não’, de quartéis e ideais, de pátria. Mas, Caetano, não! Esse era indiferente que doía! Nunca nem fez um protestozinho pelo verde (ou contra o verde, vá lá, mas que fizesse alguma coisa!) Não, só falava de piscina, de margarina, de perna de Brigitte Bardot... só alienação! Que indiferença! Que ingrato ele me saía! Curiosamente, Vandré nunca foi preso. Repito pra você não pensar que foi erro de imprensa: Vandré nunca foi preso" (ZÉ, 2003).
Sonoramente, a melodia de 'Complexo de Épico' é única, composta em compasso quaternário, todo sincopado, executada por violão e percussão e com basicamente dois acordes, mantendo-se praticamente uníssona e monocórdia, a letra é declamada e a intervenção do coro masculino totalmente dissonante recorrente num tom de desdém, “Au Au Au”, durante toda a cantiga. Por sinal ao declamar a letra Tom Zé através de uma vocalização aguda e baixa por vezes retarda a pronúncia das palavras, como se estivesse soletrando praticamente ou ditando algo para pessoas com pouco poder de compreensão que precisariam ser guiadas por um suposto herói.
O sujeito poético nos primeiros versos afirma: “Todo compositor brasileiro é um complexado”, e imediatamente questiona “Porque então essa mania danada, essa preocupação de falar tão sério, de parecer tão sério, de ser tão sério, de se sorrir tão sério, de se chorar tão sério, de brincar tão sério, de amar tão sério? Aí meu Deus do céu, vai ser sério assim no Inferno!” Nesta passagem, é possível observar uma crítica incisiva aos compositores que dão a si mais importância do que talvez devessem, auto imputando-se uma conotação de “senhores da verdade” ou arcabouço de conhecimento como fica claro em outra parte da letra: “E por que então essa vontade de parecer herói ou professor universitário” e imediatamente já questionando o saber acadêmico” Aquela tal classe (professor universitário) que ou passa a aprender com os alunos – Quer dizer, com a rua – ou não vai sobreviver?” Este questionamento tem muito sentido partindo dele, pois Tom Zé repudia o discurso que o povo é medíocre e que o grande saber está na intelectualidade, sua melhor escola de música foram os cantadores de rua da Bahia, apesar de sua formação em música erudita pela UFBA, e a sua maior sabedoria é a que ele apreendeu do homem da roça que ele ouvia no balcão da loja de seu pai, quando criança e que Guimarães Rosa e Euclides da Cunha com maestria transpôs para a literatura. Tal tese pode ser fundamentada com a teoria do “saber ordinário” de Michel de Certeau, ou seja, o saber que advém das coisas cotidianas: “[...] O dia-a-dia se acha semeado de maravilhas, escuma tão brilhante [...] como a dos escritores ou dos artistas. Sem nome próprio, todas as espécies de linguagens dão lugar a essas festas efêmeras que surgem, desaparecem e tornam a surgir” (CERTEAU, 2003).
Outro tema que pode ser encontrado na a cantiga repórter em questão é a crítica ao canto empostado das canções de protesto. Nesse aspecto, o canto contido de João Gilberto teve efeito estrondoso. O barulho ecoou como estímulo nas cabeças dos jovens, que se sentiram mais cidadãos do mundo, e teve efeito oposto no segmento com “complexo de épico”, cuja preocupação era a “de falar tão sério / de parecer tão sério / de brincar tão sério”. Trata-se no baião modal 'Complexo de Épico', portanto, de uma alfinetada em valores institucionalizados na música popular, no qual instrumentos e coro repetem as mesmas sequências de notas, em looping.
"O acompanhamento da canção 'Complexo de Épico', é bastante econômico, apresentando vozes secundárias, violão, contrabaixo elétrico e percussão. O violão apresenta uma divisão rítmica bastante semelhante àquelas utilizadas nas 'batidas' da bossa nova [...], mesmo que aqui seja executada de forma mais 'seca' e sem qualquer variação. No entanto, o ouvinte jamais é levado a pensar que este seria o gênero da canção. Isso acontece, pois todos os outros instrumentos não seguem qualquer gênero, organizando-se em ritmos simples e sem síncopas, sendo que no caso das vozes e do contrabaixo, suas células rítmicas elementares contém três vezes mais tempo de silêncio que de notas a serem executadas" (VALENTE, 2006).
A crítica à repetição de modelos musicais e aos compassos aprisionados em “cadeira de rodas” ganha tom de ironia ao lembrar que toda a cantiga é circular, por sua vez, constitui-se numa outra forma de repetição. “As tradições musicais cristalizadas pelo tempo parecem pairar sobre os compositores brasileiros como frágeis fantasmas do passado” (DUNN, 2009) “como se algum pesadelo/ estivesse ameaçando/ os nossos compassos”. É uma repetição inusitada para os padrões da canção de Música Popular Brasileira, que, por isso, instaura uma
diferença.
"Outra investida contra as convenções do cancioneiro é a extrapolação da métrica, no longo verso que ataca o compositor-intelectual. A frase – 'E por que então essa vontade/ de parecer herói ou professor universitário (aquela tal classe/ que ou passa a aprender com os alunos/ quer dizer, com a rua/ ou não vai sobreviver)?' – construída com apostos, parênteses e travessões, entra em conflito interno com aprópria circularidade da canção" (LIMA, 2004).
Somam-se à letra, as frases que Tom Zé diz enquanto happening ao entoar a cantiga repórter em análise na performance inerente à sua gravação original: “Grava esse negócio aí, se não eu vou esquecer!” Depois parece sorrir enquanto canta até que, inesperadamente, interrompe e, descontraído, fala: “deixa eu aprender a entrar em sério”, para continuar a cantar esta parte: “de falar tão sério/ de parecer tão sério / de brincar tão sério”. O arremate é o mais informal e despojado possível: “Fica legal esse negócio aí? Podia tentar fazer uma, né?” As perguntas e comentários deixam transparecer a ocorrência de improvisos na realização da gravação, o que indica uma abertura ao acaso, uma abertura do “campo para decisões livres e espontâneas”.»

EMÍLIA SARAIVA NERY
extracto de "Nos Jardins da Política da Imprensa Cantada de Tom Zé"



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@hugo888888888


Todo compositor brasileiro
 é um complexado.
Por que então esta mania danada,
 esta preocupação
 de falar tão sério,
 de parecer tão sério
 de ser tão sério
 de sorrir tão sério
 de chorar tão sério
 de brincar tão sério
 de amar tão sério?
Ai, meu Deus do céu,
 vai ser sério assim no inferno!
Por que então esta metáfora-coringa
 chamada "válida",
 que não lhe sai da boca,
 como se algum pesadelo
 estivesse ameaçando
 os nossos compassos
 com cadeiras de roda, roda, roda, roda?
E por que então esta vontade
 de parecer herói
 ou professor universitário
 (aquela tal classe
 que, ou passa a aprender com os alunos
 - quer dizer, com a rua -
 ou não vai sobreviver)?
Porque a cobra
 já começou
 a comer a si mesma pela cauda,
 sendo ao mesmo tempo
 a fome e a comida.

@gustavofranca9823

O paradoxo mais lindo que já vi
! Tom Zé não se cansa de ser um gênio

@dannidovale2446

2020 sendo sério ouvindo o zé

@LeandroReis777

Serio???🧐🧐😁😁🤣🤣

@LeandroReis777

2022 ...mundo acabando.....hj levo NADA desse mundo à serio!!!....kkkk

@dannidovale2446

@@LeandroReis777 estava sendo irônico k

@LeandroReis777

@@dannidovale2446 kkkkkk....eu entendi sim!!!...kkkkkk...tbm!!😁✌️✌️

@mariaolivia9219

alguém de 2019 ouvindo esse gênio?

@fabianaferracini1867

2020

@hailerodrigues9858

2021

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